LP no Brasil
Seção que dirige Ronaldo Cagiano
MULTÍVAGOS VERSOS
Cinco antologias recentes esmeram e substanciam o tom de pluralidade da poesia contemporânea brasileira
Por Sérgio Tavares*
A poesia contemporânea brasileira é um ninho de aves distintas. E, ao fazer tal colocação, peço calma e cuidado ao leitor para não se deixar capturar pelo substantivo, ainda que seja iminente e sobremaneira sedutor o alçapão da analogia ornitológica.
Quando falo de pássaros, falo em levantar voo rumo à paragem para qual migram os verbos; aninhar-se, alojar-se numa métrica movediça onde a prosa deriva em todos os feitios e tonalizações, represar-se no cerco da leitura, deterner la palabra, assim como nos versos magnéticos do argentino Roberto Juarroz (Buenos Aires, 1925 – 1995).
Detener la palabra
un segundo antes del labio,
un segundo antes de la voracidad compartida,
un segundo antes del corazón del otro,
para que haya por lo menos un pájaro
que puede prescindir de todo nido.
El destino es de aire.
Las brújulas señalan uno solo de sus hilos,
pero la ausencia necesita otros
para que las cosas sean
su destino de aire.
La palabra es el único pájaro
que puede ser igual a su ausencia.
Pois, como tudo aquilo que se anula e ilumina-se, a poesia é o único gênero que fulgura onde não há. A ausência da forma, da logos, não reprime a persuasão e o apelo sensorial, o pathos, visto que, como testemunha Juarroz, o destino é o ar. A rarefação conduz o enfeixamento de temas, estruturas e cadências que incide no fabricar de uma prosa singular por ser tantas. Dadas as circunstâncias, portanto, a poesia contemporânea brasileira não deriva de uma cena, mas de todos os elementos que se congregam para criá-la. É o pássaro que voa, o voo e o firmamento.
Como observa o poeta e crítico literário Ivan Junqueira, na coletânea de ensaios “Reflexos do sol posto”, o que temos atualmente é “um notável pluralismo de tendências, de correntes e de procedimentos estéticos, mas nenhuma escola ou movimento da envergadura literária do Romantismo do século XIX ou do Modernismo de 1922”. O autor se refere a Semana de Arte Moderna, fervura de ações de caráter vanguardista e iconoclasta, nas áreas da literatura, da música e das artes plásticas, que redefiniu, na década de 20, o cenário que acomodaria a cultura brasileira.
A partir de então, seguiram-se períodos bem delineados de produção que, à distância necessária para o abarcamento histórico, foram únicos ao pensar seus tempos, a exemplo da Geração de 45, da Geração de 60, do Concretismo e do Neoconcretismo, além de movimentos menores. Todo esse apanhado de vislumbres e percepções culminou num artesanato verbal que, atualmente, não se consolida um grito, mas irradia-se através da multiplicidade de vozes, reconhecendo-se pela cacofonia, uma babel em versos. “Vivemos hoje um período em que todos os procedimentos poéticos estão legitimados, desde o versilibrismo até o retorno à rima, à métrica e às formas fixas”, atesta Junqueira, na antologia supracitada.
Obviamente que qualquer conclusão acerca de quais serão os poetas que, dessa ciranda multifária, deixarão legados para próximas gerações, seria, no imponderável agora, ingênuo e deveras leviano. Contudo, cinco obras recentes ilustram de maneira pontual o garimpo eclético do qual se extrai a poesia brasileira feita na segunda década do século XXI. “Sem passagem para Barcelona”, de Alberto Bresciani; “Corpo de festim” , de Alexandre Guarnieri; “Poemas Apócrifos de Paul Valéry”, de Márcio-André; “Esculturas fluidas”, de João Paulo Parisio; e “As coisas de João Flores”, de Marco Cremasco, mostram autores que, a despeito da fonte em que buscam influência e inspiração, confluem ao entender a poesia na condição de manufaturas que independem de fôrma e de etiqueta.
A alma e o corpo
Comecemos com Bresciani. Depois de estrear com a antologia poética “Incompleto movimento”, em 2011, o poeta e magistrado, nascido no Rio de Janeiro, adensa suas propostas de esgotar os pendores subjetivos do corpo e usá-los para traduzir a arquitetura que circunda o homem, o artista. Tal investigação anímica revela um autor versátil e completo que, por muitas vezes, aproxima suas criações mais da natureza da prosa narrativa que da poética. São poemas-instantâneos, registros de um olhar que extrai da vida cotidiana o que há de mais extraordinário no curso da normalidade.
Clínica
(à maneira de Eltânia André)
I
Sofremos iguais
inacabados e iguais
aqui
em Bali
Nepal
Morremos iguais
ignorantes e iguais
aqui
em Manaus
Cadaval
Uma flor igual
em cada cova
funda ou rasa
II
O relógio desperta
abrem-se os sinais
os filhos de bicicleta
Só precisamos de um foco
na sorte das cartas
dos búzios do ar
Somos a promessa
no horóscopo de hoje
Bresciani encontra forma e ritmo na impossibilidade do título. Seus vazios atraem uma carga de significado que se sobrepõe e alimenta-se das palavras, resultando em versos que sofrem intervenções abstratas, mesmo quando tratam de temas duros, como a violência e a tragédia fatal. Há desencanto e ironia, sutilezas. Uma busca por temas aparentemente dissonantes, que são, de fato, as tensões que mobilizam os conflitos humanos.
Homicídio
Porque escutava
terra e plantas
as trazia nas mãos
Era sua oferta
- não sabia das farpas
histórias de culpa
o outro lado da faca -
Sem tempo de troca
a veia é cortada
Flutua
com sangue empapado
e ainda duvida
se foi por amor
Enquanto “Sem passagem para Barcelona” faz o deslocamento do íntimo para o mundano, “Poemas Apócrifos de Paul Valéry”, do poeta e cineasta Márcio-André, radicado desde 2011 na Espanha, trafega num fluxo contrário. Da imagem da máquina desmontada que veste a capa, está o estimulo a que se prende o conteúdo: um movimento de tramar-se e destramar-se, uma construção que só faz sentido se ao fim for demolida, uma entropia, um livro que é sempre outro ao ser reaberto, uma queda para o alto de resfôlegos e de deslumbres.
Magnetizado por um mistério de que esses sejam, de fatos, versos inéditos, traduzidos pelo autor brasileiro, o livro, finalista do Prêmio Jabuti - 2015, é uma amálgama de estilos e vozes, que aborda temas como a cidade, o desterro, o desmoronamento do conceito de humanidade e, por consequência, a violência contumaz que se infiltra por todos os veios da sociedade contemporânea. A poesia é sempre a de um olhar altaneiro, que deslinda a vastidão em suas formas mínimas, penetrando a matéria e dela extraindo o abstrato. Forma e verbo se aliam e se desnaturam, inventando coisas que conhecemos mas que têm outros significados; construindo uma cidade anônima, pois são muitas ou a mesma.
“Toda matéria é leve quando dita levemente”, poema narrativo cuja tessitura ocupa 25 páginas, inaugura a coletânea. São versos que transitam pela margem de um abismo particular, a saga de um homem que, incapaz de compreender a metrópole para a qual se transferiu, mostra-se igualmente inabilitado para se relacionar consigo. “Os estrangeiros não têm nome/viajam do esquecimento (…) Estar vivo é a forma mais banal de estar no mundo”. Impostor de si, o caminho passa a ser a anulação do passado, a renúncia da pátria, dos filhos, dos amores, mesmo que refém de um futuro impreciso.
A obra seguinte dá uma guinada nos processos técnico e visual, desconstruindo a métrica em prol de uma poesia que adquire um verniz de fabulação e reverencia os animais e os objetos comuns, uma ode aos tipos elementares. “Bestiarium imagineria” traz visões equivalentes às produções do escritor mexicano Juan José Arreola (México, 1918 - 2001), demostrando uma capacidade aguda de capturar a intimidade desses modelos de observação. Algo como a morfologia do corpo e a fisiologia da palavra. O organismo percebido por meio de sua mecanização.
O experimentalismo ganha força em “Livro das observações maquinais”, um encadeamento de acelerações e pausas, despertares e desmaios, abrir e fechar de olhos diante da imensidão e do grão que é o mundo. Decompor a palavra para desobumbrar outros significados em seus fragmentos voláteis volta a impulsionar a obra, que alcança arroubo estético em “Biblioteca-Tangerina”, disparos de versos que rompem o cerco paginado, rasgam as margens a fim de compor um puzzle verbal que permite muitos sentidos e muitas leituras, modulações.
“Cazas” e “O evangelho segundo a água” retomam temas como a cidade e o indivíduo, a arquitetura e o organismo, o corpo como a casa que nunca deixamos, o homem-peça de uma máquina chamada existência. Ao passo que “Campos semânticos” é a queda vertiginosa, o cabeceio na desclaridade cotidiana, o asselvajamento dos homens comuns bem ilustrado no poema “Obrigado, senhor”. Afiadas e contundentes, as frases ali evocam uma oralidade rogatória para desnudar as desgraças, o perecimento, a hipocrisia, a indiferença diante da dor dos outros, sobretudo por não ser a nossa.
obrigado senhor
por estar do nosso lado
por aniquilar nossos inimigos
por disseminar o ódio e a devastação entre os que merecem
por limpar a terra com o genocídio necessário dos que nos odeiam
por lustrar o chão da sala com a cera dos miolos dos maus pensamentos
por amansar toda uma raça e fazer a raça amansada amansar outras raças
por privar do sono quem nos tira o sono
por assar com gilete o pão de quem nos rouba a comida
por nos ofertar a brutalidade como entretenimento
por não matar tão rapidamente
por vivisseccionar ao som de declarações de amor
por tornar o homicídio um ato criativo
por nos dar prazer ao infligir a dor
por não molestar somente o corpo mas também o espírito
por buscar o espírito dentro da cabeça e apagá-lo com amoníaco
por trincar os ossos até restar um pó fino que possamos cheirar
por arrancar vísceras com os dentes
por arrancar dentes com um martelo para nos proteger
por liquidificar a mão de futuros assassinos quando ainda são inocentes
por injetar cimento na artéria de quem respira o ar que é nosso
por violar as mães e as esposas dos violadores
por amputar o tampo facial dos feios e dos sujos
por transplantar para bons homens os órgãos de criminosos ainda vivos
por gotejar ácido nítrico nos olhos dos que nos olham torto
por decepar o globo ocular dos que não nos olham
por calcificar a língua dos que nos amaldiçoam
por dar a chance de nos masturbar sobre o cadáver do adversário
por criar máquinas que exterminam humanamente
por levar a miséria a quem não nos cai bem
por levar a bactéria a quem nos inveja
por criar a vingança
por nos ensinar a generosidade interessada como alternativa à indiferença
por humilhar quem não nos entende
por dar utilidade aos corpos processados e fermentados dos inúteis
por estuprar a alma daqueles cujos corpos são também inúteis
por não nos deixar saber quando assassinam por nós
por amputar os braços de quem não queremos abraçar
por gestar fetos disformes na barriga das mulheres que não amamos
por inserir agulhas em brasa pela uretra até o escroto de quem cobiça nossas mulheres
por transladar países com sofrimento
por armar o vilão para que possamos eliminá-lo sem culpa
por nos dar motivos para odiar
por fazer da política a arte da arrogância
por purificar nosso coração com o distanciamento conveniente
por não sermos a bola da vez
Sem vísceras à mostra, mas com forte implicação visual, os poemas do recifense João Paulo Parisio são composições de desmaterialidade, registros da escavação do corpo à procura incessante pela alma; pelo vazio retratado que é a própria alma.
Conforme traz em lema na abertura da coletânea “Esculturas fluidas”, é o “silêncio em homenagem a ele mesmo”. Versos concebidos no instante de fratura da concretude, na frequência do que vibra à beira do tecido geográfico, da “cidade inteira” que “é um monólito” e uma massa fluída.
De um jogo contínuo de (des)fragmentação, a matéria se dissolve em peças abstratas, destroços. Um tipo de casca, de pupa que não contêm a larva, mas a ideia de larva; o simbolismo sentimental do fenômeno, da metamorfose. Essa percepção lírica das coisas impenetráveis faz-se evidente em “Crônica de uma tarde qualquer”, no qual o olhar que varre a paisagem urbana, de blocos habitáveis e pavimentos automotivos, consegue capturar os seres minúsculos, o rumor do vento, a palpitação do gigante chamado metrópole.
As presenças invisíveis são a matéria-prima da prosa poética de Parisio. O imponderável, as coisas que ganham peso apenas no momento em que significadas em palavras, que, reificadas, não conseguem atingir o mesmo objeto de quando abstrações. “Jogo com as ideias/só pra sentir melhor/até onde elas não chegam” (Esporos, pg. 61), confessa o autor.
Não chega a ser, de fato, uma prospectiva niilista, mas há uma aceitação clara do caos que regem as normas contemporâneas - o pensamento coletivo, as intervenções que deixam marcas profundas, os atos impunes dos homens -, da desordem que alimenta sua própria poesia. Uma fervura de ideias de diferentes origens e sentidos, que pode ter o fulgor de um relâmpago ou a fatalidade de um raio.
Forma & conteúdo
O poema não é uma luva
com a qual se veste o sentido
e pode ser descartada após o uso,
nem uma estrutura a ser dissecada,
esperando sobre a mesa do legista
que a despojem dos segredos
do seu mecanismo.
O poema é a própria coisa sentida,
com seus ossos, nervos e músculos,
envolta numa pele de palavras
e, acima de tudo, viva,
pois forma é conteúdo.
O corpo e a alma
Prova inerente e luminosa de que a poesia contemporânea brasileira se ocupa de vasculhar a múltiplas possibilidades da substância verbal está na proposta a que se apega “Corpo de Festim”, de Alexandre Guarnieri, que conquistou o primeiro lugar no Prêmio Jabuti - 2015.
Ainda que pareça chocante (e isso não é nada mau), o que o poeta e historiador da arte carioca propõe ao leitor é deitar os olhos sobre um tipo de autópsia, uma dissecação frontal. O livro é um corpo exposto, seccionado e escavado de suas partes robustas e mínimas - invisíveis, sendo essas ausências preenchidas por abstrações poéticas, poemas-orgânicos que reconstroem a pele, a carne, os ligamentos, as secreções e o ossos através de um léxico cuja função é (re)significar a matéria.
\\ livro aberto //
de pele é revestido o corpo, tecido
vivo \ no livro, chama-se capa
(o couro sob o título) \ abri-lo:
gráfico grito \ mas como ouvi-lo
se é branco o ruído da celulose,
- tão silenciosa? todo livro fechado
se cala \\ cada nova leitura o amplia
de órgãos o corpo é preenchido,
de vírus, microrganismos, avisos /
no livro, diz-se texto / há páginas
em que apenas a aparência é pueril /
decifrá-las nem sempre é fácil, há vários
níveis de sentido ou, ainda, na entrelinha,
o seu estilo // neste exercício: o mais difícil.
Dividida em três seções: “Darwin não joga dados, Mallarmé sim”, “Corpo-só-órgãos” e “Vigiar e punir”, a coletânea empreende uma viagem cujo ponto de partida é a centelha basilar para a gestação da vida, o átomo e o carbono nadando oceanos e transmutando barbatanas em membros inferiores e superiores, no arrastar-se do ser inacabado rumo à terra firme, o primeiro passo da humanidade. Guarnieri constrói uma odisseia em que versilibrismo é a argamassa de fundação para conjuntos complexos de opiniões e ideias, da teoria da evolução ao teologismo.
O homem é o centro do mundo, o centro do poema. E, para representá-lo em todo seu intenso sistema biológico, patológico, é preciso desconstruí-lo, esboroá-lo assim como a métrica (ou a resistência desta) e a rima, reinar o fator imagético sobre a linguagem. Tudo que vive, pulsa, suspira e goza evolui para um fim, o destino que aguarda a carne se decompor e os versos transformarem-se em algo distinto que, mesmo assim, é poesia.
“quais das horas vividas permitiria, limpa, cristalina, uma só plataforma
na memória? declararia o último suspiro de toda a obviedade da vida?”
(+ necropsia +, pg., 105, Corpo de festim)
O óbvio da vida está na capacidade de compreender cada objetivo particular como uma peça inestimável do autor. Contudo, não a materialidade deste, mas o afeto que carrega, toda a substância sentimental que lhe dá um nome e, por conseguinte, propriedade.
O professor paranaense e premiado escritor Marco Cremasco, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura, reflete esse radioso poder de interpretação na antologia “As coisas de João Flores’. Dando voz (e, sobretudo, visão) a um homem simples, que sensibiliza a própria vida com o lirismo cotidiano, a vida se desmonta em pequenos versos que, da sutileza à quietude, desvenda ocorrências elementares, “o silêncio quebrado por um poema pedindo passagem”.
O corpo laivo de Guarniere dá lugar a registros leves da alma humana. Poemas curtos, por vezes mínimos, que se caracterizam por primar pelo requinte, por um domínio técnico que ora insinua um regionalismo tardio, transformando o léxico num encontro harmonioso entre forma e verbo.
O universo de Cremasco, na persona de João Flores, é conformado por elementos de presença corriqueira que parecem lhe oferecer um lado inobservado por todos aqueles (nós!) cuja monotonia dos dias não se cobre de filtros líricos. Um tipo de diálogo ultrassensível que permite a quem escreve decifrá-lo unicamente em escalas de versos. Desse modo, o poeta revela ao mundo o que dizem as coisas incapazes de falar. As histórias narradas pelas estrelas, pelas chuvas, pelos solitários barcos à deriva, pela lua em gestação que enfastia os mares.
Vento
o vento é uma criança
que não se cansa
de brincar
quando cresce
perde toda magia
vira vendaval
De volta a Juarroz e seu poema de plumas, detener la palavra é também apreender suas múltiplas facetas, suas possibilidades, suas ambições. As cinco antologias analisadas acima podem ocupar a dimensão de um recorte, mas retratam a força de um cenário em que a diversidade, acima de tudo, mobiliza-se no criar e no existir; um pássaro que deseja ser igual a sua presença. Que soprem, então, os mais potentes ventos para levar ao alto celestial a poesia contemporânea brasileira, essa bandada vistosa de tantos cantos e espécies!
*Sérgio Tavares nasceu em 1978. É autor de “Queda da própria altura”, finalista do 2º Prêmio Brasília de Literatura, e “Cavala”, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura. Alguns de seus contos foram traduzidos para o inglês, o italiano, o japonês e o espanhol. Participa da edição seis da Machado de Assis Magazine, lançada no Salão do Livro de Paris.
O A P L I C A T I V O D O S S O N H O S por Carlos Felipe Moisés